26 abril 2016

Ide pelo mundo...


pequeno Thomas por volta dos 5 anos de idade
“Lembro-me de um dia em que tive grande vontade de ir à igreja, mas não fomos. Era domingo. Talvez o domingo de Páscoa, provavelmente em 1920. Do outro lado dos campos, além da casa vermelha do sítio vizinho, eu conseguia ver a torre da igreja de São Jorge sobressaindo entre as árvores. O som dos sinos da igreja chegava a nós através dos campos ensolarados. Eu brincava diante da casa e parei para escutar. De repente todos os passarinhos começaram a cantar nas árvores em cima da minha cabeça. O som do canto dos passarinhos e dos sinos tocando encheu meu coração de alegria. Gritei ao meu pai:
— Pai, todos os passarinhos estão na igreja deles.

E depois eu disse: — Por que não vamos à igreja?

Meu pai levantou a cabeça e disse: — Nós iremos.

— Agora? — perguntei.

— Não, é muito tarde. Mas iremos num outro domingo.”

A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, pág. 15

18 abril 2016

Valores universais


"Gandhi tinha o maior respeito pelo cristianismo, por Cristo e pelo Evangelho. Seguindo seu caminho da satyagraha* acreditava seguir a Lei de Cristo. Seria difícil provar estar ele inteiramente enganado nessa crença ou que fosse ele, em qualquer grau, insincero.

Uma das grandes lições da vida de Ghandi é a seguinte: Ele, um indiano, descobriu, através das tradições espirituais do Ocidente, sua herança indiana e, com ela, seu reto pensar. Ora, na fidelidade à sua própria herança e ao seu sadio equilíbrio, pôde apontar aos homens do Ocidente e de todo o mundo um meio de recuperar o reto pensar dentro de sua própria tradição, manifestando, assim, o fato de que existem certos valores essenciais e indiscutíveis – religiosos, éticos, ascéticos, espirituais e filosóficos – sempre necessários ao homem e que, no passado, conseguiu ele adquirir.

Valores sem os quais não pode viver, valores atualmente em grande escala por ele perdidos, de modo que, sem preparação para enfrentar a vida de maneira plenamente humana, corre agora o risco de destruir-se completamente. Esses valores podem ser denominados “religião natural” ou “lei natural”, seja como for, o cristianismo admite sua existência, pelo menos como preâmbulos à fé e à graça, se não, por vezes, muito mais que isso (Rm 2, 14-15; At 17, 22-31).

Esses valores são universais e é difícil ver-se como possa haver alguma “catolicidade” (cath-holos significa “tudo abranger”) que, mesmo implicitamente, os exclua. Uma das marcas da catolicidade é precisamente a de que valores em toda parte naturais ao homem se realizem, no mais elevado nível, na Lei do Espírito e na caridade cristã. Uma 'caridade' que exclui esses valores não pode reivindicar para si o título de amor cristão."

*Uma palavra fabricada por Gandhi. Sua raiz significa “apegar-se à verdade” e, por extensão, resistência pela não-violência.


Gandhi e a não violência, Thomas Merton (Editora Vozes), 1967, pág. 16 e 17

11 abril 2016

Amor, solidão e verdade


"Como podemos redescobrir essa verdade?
Só quando não mais precisarmos buscá-la – pois, enquanto a buscamos, deixamos implícito que a perdemos. Mas, na realidade, reconhecer-nos enraizados na nossa verdadeira base, o amor, é reconhecer que não podemos ser sem ele.
Esse reconhecimento é impossível sem uma solidão pessoal básica."

Amor e vida, Thomas Merton (Martins Fontes, 2004), pág. 19

04 abril 2016

A experiência mística da contemplação

“A verdadeira experiência mística de Deus e a suprema renúncia a tudo fora dele coincidem. São dois aspectos da mesma coisa. (...) A união da luz simples de Deus com a luz simples do espírito do homem, no amor, é contemplação.”

Novas sementes de contemplação, Thomas Merton (Editora Fisus), 1999, pág. 263 e 284