20 outubro 2014

Sinceridade: uma última palavra

A nossa sinceridade em face de nós mesmos, de Deus e dos outros homens, é proporcional à nossa capacidade de amor sincero. E a sinceridade do nosso amor depende, em larga escala, da nossa capacidade para crermo-nos amados (...). Para amar sinceramente, e com simplicidade, devemos primeiro vencer o medo de não ser amados. E isso não pode ser à custa de alguma ilusão que nos force a crer que somos amados quando na verdade não somos. Devemos despir as ilusões que nós fazemos a nosso respeito, reconhecer francamente a nossa imperfeição, e descer às profundezas do nosso ser até à realidade básica que existe em cada um, aprendendo a ver que, afinal, e, a despeito de tudo, somos amáveis!

Todo o problema da sinceridade é, pois, fundamentalmente, uma questão de amor e de medo. O homem egoísta e mesquinho, que ama pouco, e teme muito não ser amado, não pode ser profundamente sincero, embora aparente, às vezes, um caráter superficialmente franco. Em seu íntimo, ele será sempre envolto em falsidade. Mesmo nas suas melhores e mais sérias intenções, não deixará de enganar a si mesmo. Nada do que ele diz ou sente sobre o amor, humano ou divino, pode merecer crédito, até que o seu amor seja ao menos purificado dos temores mais baixos e mais irrazoáveis.

A sinceridade é, talvez, a mais vitalmente importante qualidade da verdadeira oração. Ela é a única prova certa de nossa fé, da nossa esperança e do nosso amor de Deus (...). O mais importante na oração é que nos apresentemos como somos, diante de Deus, tal qual Ele é. Isso é impossível sem um generoso esforço de recolhimento e de conhecimento de si mesmo. Mas se somos sinceros, a nossa oração não será jamais infrutífera. A própria sinceridade nos põe em instantâneo contato com o Deus de toda a verdade.

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág. 168-171

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