27 outubro 2014

Misericórdia

“Quando estou fraco, é então que estou forte” (II Cor.12,10).

É a nossa fraqueza que nos abre os Céus, porque nos atrai a misericórdia de Deus e Lhe conquistou o amor. A nossa infelicidade é a raiz de toda a nossa alegria. Até o pecado representou um involuntário papel na salvação dos pecadores, pois a infinita bondade de Deus não se pode impedir de tirar o maior bem do maior mal. O pecado foi destruído por meio do pecado daqueles que pensavam poder destruir Cristo. O pecado não pode nunca fazer nada de bom. Não pode nem mesmo destruir-se a si mesmo, o que seria de fato um grande bem. Mas o amor de Cristo por nós, e a misericórdia de Deus, destruiu o pecado, tomando sobre si todas as nossas faltas e pagando o preço devido por elas. Assim a Igreja canta que Cristo morreu na árvore da Cruz para que a vida pudesse ressurgir do mesmo tronco donde primeiro nascera a morte.

O conceito cristão de misericórdia é, portanto, a chave da transformação de todo um universo em que o pecado ainda parece reinar. Porque o cristão não escapa do mal, nem é dispensado de sofrer, nem, ainda, liberto da influência e dos efeitos do pecado. Também não é impecável. Ele pode, infortunadamente, pecar. Não é completamente libertado do mal. A sua vocação, todavia, é de livrar do mal o mundo inteiro, e de transformá-lo em Deus: pela oração, penitência, caridade, e sobretudo, pela misericórdia. Deus, que é todo santo, não contente de fazer misericórdia conosco, pôs também a sua misericórdia em mãos dos pecadores possíveis que somos, para que pudéssemos escolher entre o bem e o mal, vencer o mal com o bem, e obter para nós mesmos a misericórdia que tivermos com os outros."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.172-173

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