07 julho 2014

Pensar e agir

“A minha alma não se descobre senão quando age. Ela deve, pois agir. A estagnação e a inatividade trazem a morte espiritual. Mas a alma não deve projetar-se inteiramente nos efeitos externos da sua atividade. Não preciso ver-me a mim mesmo, eu só preciso ser quem sou. Devo pensar e agir como um ser vivo, mas não devo mergulhar o meu inteiro ser naquilo que penso e faço, nem me procurar sempre na obra que fiz.”

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 110

Um comentário:

Unknown disse...

Neste trecho temos um contemplativo por excelência falando de ação. Não pude deixar de recapitular a imagem de Marta e Maria no evangelho de Lucas. Marta e maria simbolizam a ação e a contemplação e por mais que nosso intelecto limitado teime em estabelecer uma dicotomia entre ação e contemplação, não é assim que Merton interpreta e sente ambas. Para Merton, assim como Marta e Maria são irmãs, a ação e a contemplação também são irmãs. Ambas são filhas do mesmo Pai e uma não subsiste sem a outra. Merton deixa isso muito claro no seu texto.
Ação e contemplação são, cada uma a seu modo, graça de Deus. E é assim que devemos considerar nossa aptidão que em cada um se manifesta com tendência majoritariamente à ação ou à contemplação dependendo do como nos foi determinado por Deus. A questão é que no dia-a-dia essa percepção fica um tanto anestesiada e não nos vemos como beneficiários desses talentos. Contudo, se soubermos escutar os sinais da vontade de Deus que perpassam nosso cotidiano, veremos que a nossa capacidade de ação e nossa capacidade de introspecção estão ambas sempre presentes e sempre de modo tão abundante quanto é a nossa incapacidade de percebê-las.

Porém há outro ponto importante. Marta escolheu a pior parte porque estava em ação e não em contemplação? Não! A ação também é a melhor parte desde que não se perca de vista o essencial; o agir em Deus. Executada dessa maneira, com Cristo no centro, toda a ação presta a Deus uma homenagem tão digna quanto o faz a contemplação. Marta foi admoestada por Jesus porque perdeu de vista esse referencial. Ação e contemplação fazem, ambas por seu turno, um justo e honrado louvor a Deus, não competindo uma com a outra mas entrelaçando-se e permitindo uma à outra compartilhar a mesma tigela. Por minha parte, não preciso eu, como afirma Merton, "mergulhar o meu inteiro ser naquilo que penso e faço. Não preciso ver-me a mim mesmo. Eu só preciso ser quem sou". Ou melhor ainda: Eu só preciso ser.