25 março 2013

O que é a “graça”?

O que é a “graça”? É a própria vida de Deus compartilhada por nós. A vida de Deus é amor. Deus caritas est. Pela graça somos capazes de partilhar do amor infinitamente generoso daquele que é tão pura realidade que não precisa de nada e, por isso, não pode concebivelmente explorar nada para fins egoístas. De fato, fora dele não existe nada, e tudo o que existe só existe pelo dom gratuito que Deus lhe faz da existência, de modo que um conceito absolutamente contraditório com a perfeição de Deus é o egoísmo. É metafisicamente impossível para Deus ser egoísta, porque a existência de tudo o que é depende de seu dom, de sua liberdade.

Quando um raio de luz incide sobre um cristal, ele dá nova qualidade ao cristal. E quando o amor infinitamente desinteressado de Deus atinge a alma humana, a mesma coisa acontece. E esta é a vida chamada de graça santificante.

The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005,  p. 155 e 156
 

 

19 março 2013

Minha derrota, minha salvação

“Se minha natureza tivesse teimado mais em agarrar-se aos prazeres que me desgostavam; se ela se tivesse recusado a admitir que fora derrotada por esta procura fútil de satisfação onde não podia ser encontrada, e se minha constituição moral e nervosa tivesse sucumbido ao peso de meu próprio vazio, quem sabe o que poderia ter acontecido comigo? Quem poderia dizer onde eu teria acabado?

Tinha ido longe demais para encontrar-me agora neste beco sem saída; mas a angústia e a impotência de minha situação foi algo a que sucumbi rapidamente. E minha derrota tornou-se a causa de minha salvação.”

 The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 151
 

12 março 2013

A misericórdia de Deus

"Somente a misericórdia e o amor infinito de Deus evitaram que nós nos tivéssemos dilacerado mutuamente e tivéssemos destruído toda sua criação há muito tempo. Muitos pensam que as muitas guerras são de certa forma um prova de que não existe um Deus de misericórdia. Pelo contrário, considere-se como, apesar dos séculos de pecado, ganância, luxúria, crueldade, ódio, avareza, opressão e injustiça, engendrados e reproduzidos pela livre vontade das pessoas, a raça humana consegue recuperar-se cada vez e ainda produzir homens e mulheres que vencem o mal com o bem, o ódio com o amor, a ganância com a caridade, a luxúria e a crueldade com a santidade. Como seria isso possível sem que o amor misericordioso de Deus derramasse sua graça sobre nós? Pode haver alguma dúvida sobre a procedência das guerras e da paz, quando os filhos deste mundo, excluindo Deus de suas conferências de paz, produzem guerras sempre maiores enquanto vão falando de paz?

Basta abrir os olhos e dirigi-los ao nosso redor para vermos o que os nossos pecados estão fazendo ao mundo e já fizeram. Mas não conseguimos enxergar. Somos aqueles de quem disse o profeta Isaías: “Ouvireis com os ouvidos e não compreendereis, olhareis com os olhos e não enxergareis”.

The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 118 e 119
  

05 março 2013

Sobre a Providência

“A simples tomada de consciência da própria infelicidade não é salvação: pode ser uma oportunidade de salvação, ou pode ser a porta para um buraco mais fundo no inferno, e eu tinha que descer mais fundo do que julgava. Mas agora pelo menos eu me dava conta de onde estava, e começava a tentar uma saída.

Algumas pessoas podem pensar que a Providência foi muito caprichosa e cruel comigo, permitindo que eu escolhesse os meios que escolhi para salvar minha alma. Mas a Providência, que é o amor de Deus, é muito sábia em afastar-se da vontade própria dos homens, nada tendo a ver com eles e deixando-os entregues a seus próprios desígnios, durante o tempo em que pretendem governar a si mesmos, para mostrar-lhes a profundidade da futilidade e aflição a que seu desamparo é capaz de arrastá-los.” 

The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 114