26 janeiro 2009

A misericórdia cura tudo

“Embora de nada adiante por nossas esperanças em um novo mundo totalmente utópico, no qual cada um será sublimemente misericordioso, somos obrigados, como cristãos, a procurar algum modo de dar à misericórdia e à compaixão de Cristo uma dimensão social e até política. A função escatológica da misericórdia, repetimos, é preparar a transformação cristã do mundo e introduzir o Reino de Deus. Esse Reino manifestamente ‘não é deste mundo’ (ao contrário de todas as formas de cristianismo milenarista e messiânico), mas exige ser exemplificado e preparado por formas de testemunho social heróico que tornem a misericórdia cristã clara e evidente no mundo.

(…) A misericórdia cristã deve descobrir na fé, no Espírito, um poder suficientemente forte para iniciar a transformação do mundo em um lugar onde reinem compreensão, unidade e relativa paz, onde a humanidade, as nações e as sociedades estejam dispostas a fazer o enorme sacrifício necessário para se comunicarem de modo inteligível, compreender-se, cooperar para alimentar os milhões de famintos e construir um mundo de paz. ”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 219
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 230-231
Reflexão da semana de 26-01-2009

Um pensamento para reflexão
: “A misericórdia cura tudo. Cura corpos, espíritos, sociedade e história. É a única força que pode realmente curar e salvar.”
Amor e Vida, Thomas Merton

19 janeiro 2009

Uma colher de prata na boca

“ No inverno, a paisagem despojada do município de Nelson tem um aspecto terrivelmente pobre. As casas dos nossos vizinhos daqui até Bardstown são bem miseráveis. Somos nós [Trapistas] que deveríamos ser pobres. Bem, estou pensando nas pessoas de uma favela próxima à fábrica Brandeis, na Rua Brook, em Louisville. Tivemos de esperar lá enquanto Dom Abade comprava peças de trator. Uma moradora estava parada na frente do barraco, tremendo em seus farrapos, enquanto um caminhão de aspecto suspeito, anônimo, descarregava no pátio um pouco de carvão desviado de algum lugar. Eu me perguntei se ela estava passando o inverno aquecida. (…) O mundo é terrível, as pessoas estão caindo aos pedaços, morrendo de fome e de frio, vivendo em um inferno de desespero, e aqui estou eu, com uma colher de prata na boca, escrevendo livros, e todo mundo me escreve elogiando e dizendo como sou maravilhoso por abrir mão de tanta coisa. E do que, gostaria eu de perguntar-lhes, abri mão, exceto de dores de cabeça e responsabilidades?”

Entering the Silence, Journals volume 2
, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 264.
Reflexão da semana de 19-01-2009

Um pensamento para reflexão: “Da próxima vez que eu começar a ficar de mau humor porque o canto no coro não está tão bom, é melhor me lembrar das pessoas que moram mais adiante na estrada.”
Entering the Silence, Thomas Merton

12 janeiro 2009

Nosso ser vivo

“ O eu interior não é uma parte de nosso ser, como o motor em um carro.É toda nossa realidade substancial em seu nível pessoal e existencial mais elevado. É como a vida, e é vida: é nossa vida espiritual em seu máximo, a vida pela qual tudo mais em nós vive e se move. Permeia e ultrapassa tudo o que somos. Se está desperto, comunica nova vida à inteligência na qual vive, de modo que esta se torna consciência viva de si mesma: essa consciência não é tanto algo que possuímos; é, antes, algo que somos. É uma nova e indefinível qualidade do nosso ser vivo.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 6.
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 12.
Reflexão da semana de 12-01-2009

Um pensamento para reflexão: “ (…) O eu interior é, em primeiro lugar, uma espontaneidade que, se não for livre, não é nada.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

05 janeiro 2009

Você precisa nascer de novo

“ O renascimento espiritual é a chave para as aspirações de todas as religiões mais elevadas. Por ‘religiões mais elevadas’ quero dizer as que, como o budismo, o hinduísmo, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, não se contentam com os cultos tribais rituais enraizados no ciclo das estações e colheitas. Essas ‘religiões mais elevadas’ correspondem a uma necessidade mais profunda do homem: uma necessidade que não pode ser satisfeita apenas pela celebração ritual de sua unidade com a natureza – sua alegria pelo retorno da primavera! O homem busca ser liberto da mera necessidade natural, da servidão em relação à fertilidade e às estações, do círculo de nascimento, crescimento e morte. O homem não se contenta em ser escravo da necessidade: ganhar o sustento, criar sua família e deixar um bom nome para a posteridade. No fundo de seu coração, há uma voz que diz: ‘Você precisa nascer de novo.’ É uma obscura, porém insistente, exigência de sua própria natureza transcender-se a si mesmo na liberdade de uma identidade plenamente integrada, autônoma e pessoal.”

Love and Living
, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 194
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 204
Reflexão da semana de 05-01-2009

Um pensamento para reflexão
: “O instinto espiritual mais profundo do homem é o impulso da verdade interior que exige que ele seja fiel a si mesmo: às suas potencialidades mais profundas e mais originais.”
Amor e Vida, Thomas Merton