29 setembro 2008

O brilho ilusório da novidade

“ Na moderna sociedade tecnológica, tornamo-nos insensíveis e desiludidos. Aprendemos a suspeitar do que se apresenta como novo, a duvidar da ‘última novidade’ em tudo. O novo atrai-nos instintivamente, mas nele só vemos a mesma velha impostura. O brilho ilusório da novidade, a pretensa criatividade de uma sociedade na qual a juventude é comercializada e os jovens são velhos antes dos vinte enche alguns corações de profundo desespero. Parece não haver meio de encontrar mudança real alguma. ‘Quanto mais as coisas mudam’, diz um provérbio francês, ‘mais são as mesmas’.

Entretanto, no mais profundo de nosso ser, ainda ouvimos a voz insistente que nos diz: ‘Você precisa renascer.’

Há em nós um instinto de novidade, de renovação, de liberação do poder criativo. Buscamos despertar em nós mesmos uma força que realmente mude nossas vidas de dentro para fora. Contudo, o mesmo instinto nos diz que essa mudança é a recuperação do mais profundo, mais original, mais pessoal que há em nós. Renascer não é tornar-nos outra pessoa, e sim tornar-nos nós mesmos.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 176
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 206

Reflexão da semana de 29-09-2008


Um pensamento para reflexão: “O instinto espiritual mais profundo do ser humano é o anseio pela verdade interior que exige que sejamos fiéis a nós mesmos: as nossas potencialidades mais profundas e mais originais. Ao mesmo tempo, contudo, para nos tornarmos nós mesmos, precisamos morrer. Ou seja, para descobrirmos nosso verdadeiro eu, o falso eu precisa morrer. Para que o eu interior apareça, o eu exterior precisa desaparecer, ou pelo menos tornar-se secundário, desimportante.
Amor e Vida, Thomas Merton

22 setembro 2008

Quer conhecer a Deus?

“ Quer conhecer a Deus? Aprenda a compreender as fraquezas e imperfeições dos [irmãos]. Mas como você pode compreender a fraqueza alheia se não entender a sua própria? Como pode ver o sentido de suas próprias limitações se não tiver recebido de Deus a misericórdia, que lhe dá o conhecimento de si mesmo e Dele? Não basta perdoar os outros: é preciso perdoar com humildade e compaixão. Perdoar sem humildade é um escárnio: supõe que somos melhores do que os outros.

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. 163
No Brasil: Homem Algum é uma Ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 183
Reflexão da semana de 22-09-2008

Um pensamento para reflexão
: “Vencemos o mal no mundo pela caridade e pela compaixão de Deus, e assim expulsamos todo mal do coração.”
Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton

15 setembro 2008

A verdadeira não-violência

“ A tática da não-violência é tática de amor que procura a salvação e a redenção do opositor, não seu castigo, sua humilhação e derrota. Uma pretensa não-violência que procura derrotar e humilhar o adversário por uma agressão espiritual em lugar de o atacar fisicamente é pouco mais do que a confissão de fraqueza. A verdadeira não-violência difere totalmente disso e é muito difícil. Esforça-se por operar sem ódio, sem hostilidade e sem rancor. Trabalha sem agressão, utilizando o lado bom que já pode encontrar no adversário. Pode ser fácil falar sobre isso em teoria. Na prática, não é fácil, especialmente quando o adversário está alertado em defesa amarga e violenta de uma injustiça e acredita ser justa sua atitude. Devemos assim ter cuidado com o modo pelo qual falamos de nossos opositores. Devemos ser ainda mais cuidadosos quanto à maneira como regulamos nossas desavenças com nossos colaboradores. É possível surgirem as mais amargas discussões, os ódios mais virulentos entre aqueles que devem trabalhar juntos em favor das mais nobres causas.

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 73-74
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 100
Reflexão da semana de 15-09-2008

Um pensamento para reflexão: “Nada há nada mais próprio para arruinar e desacreditar um santo ideal do que uma guerra fratricida entre ‘santos’.”
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton

08 setembro 2008

Simplicidade

“ Nada pode estragar esta manhã. A chuva parou. Os pássaros cantam e os estorninhos perseguem um curvo pelo céu cinza. As nuvens ainda estão baixas sobre o bosque. Faz frio.

Os barris de uísque estão de pé ou deitados na umidade ao lado do depósito de lenha, um deles com ervas molhadas até o meio, outros rolando nas lascas de madeira e pedaços de cascas de árvore encharcados.

Alguém serrou ao meio um barril pequeno, que agora é um dos objetos mais bonitos daqui. Um exemplo de wabi-sabi (simplicidade) de que Suzuki fala. Com alegria, ontem senti o cheiro de queimado desse barril. É lindo vê-lo apanhar chuva.”

A Search for Solitude, de Thomas Merton.
Editado por Lawrence S. Cunningham
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1996 p. 281

Reflexão da semana de 08-09-2008

Um pensamento para reflexão: “Um dia encantador depois do outro. Que paz! Meditação com vaga-lumes, bruma no vale, Lua minguante, corujas distantes – despertar interior gradual e centragem na paz e na harmonia de amor e gratidão.”
Dancing in the Water of Life, Thomas Merton

01 setembro 2008

O que é esse mundo?

“ Os cristãos agora estão se fazendo curiosas perguntas a respeito de algo chamado de “o mundo”. Deveriam insultá-lo como seus pais faziam? Devem renunciar a ele como os monges? Devem amá-lo como o próprio mundo se ama? Devem entrar em diálogo com ele, como o Papa dialoga com todo tipo de pessoas, sem excluir os russos? Ou, em longo prazo, devem admitir com franqueza que fazem parte do mundo e começar desse ponto? O que é esse mundo? Será que ele existe?

Devemos começar por admitir que o primeiro lugar no qual procurar o mundo não é fora, e sim dentro de nós mesmos. Nós somos o mundo. No mais profundo alicerce de nosso ser, permanecemos em contato metafísico com o todo da criação, da qual somos apenas pequenas partes. Por meio de nossos sentidos e de nossa mente, de nosso amor, necessidades e desejos, estamos envolvidos, sem possibilidade de evasão, neste mundo de matéria e de [seres humanos], de coisas e de pessoas, que não só nos afetam e mudam nossas vidas como também são afetados e modificados por nós. A partir do momento em que sentamos à mesa e colocamos um pedaço de pão na boca, vemos que estamos no mundo e não podemos estar em outro lugar a não ser nele até o dia de nossa morte. A questão, pois, não é especular a respeito de como vamos entrar em contato com o mundo – como se estivéssemos, por assim dizer, no espaço sideral -, mas como validar nossa relação, dar-lhe uma significação plenamente sincera e humana, e torná-la verdadeiramente produtiva e valiosa para o nosso mundo.”

Love and Living
, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 106
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 127
Reflexão da semana de 01-08-2008

Um pensamento para reflexão
: “É verdade que a maioria [dos seres humanos] se contenta em aceitar uma relação pré-fabricada que o próprio mundo lhes oferece, mas, em tese, todos somos livres para tomar distância do mundo, julgá-lo e até chegar a determinadas decisões a respeito de refazê-lo. Pelo menos podemos fazer isso no pequeno mundo do qual nos rodeamos em nossos próprios ninhos – nossos lares.”
Amor e Vida, Thomas Merton