30 junho 2008

A busca da unidade

“ É fato bem conhecido que, no Oriente, na China, na Índia, no Japão e na Indonésia, a vida religiosa e contemplativa é promovida há séculos e conheceu um desenvolvimento de uma riqueza ímpar. Durante séculos, a Ásia foi um continente de grandes comunidades monásticas. Ao mesmo tempo, a vida solitária floresceu ou à sombra dos mosteiros ou em florestas, montanhas ou desertos. O yoga hindu, em suas várias formas, tornou-se quase lendário em termos de contemplação oriental. O yoga recorre a uma variedade de disciplinas e técnicas ascéticas para a ‘libertação’ do espírito humano das limitações que lhe impõe a existência material, corpórea. Em todo o Oriente, seja no hinduísmo ou no budismo, encontramos essa sede profunda, indizível, de beber nos rios do Paraíso. Sejam quais forem as filosofias e teologias por trás dessas formas de existência contemplativas, o esforço é sempre o mesmo: a busca da unidade, o retorno para o eu mais interior unido com o Absoluto, a busca Daquele que está acima de tudo, e em tudo, Daquele que Só Ele é Só.”

The Inner Experience
, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 29-30
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 43-44

Reflexão da semana de 30-06-2008

Um pensamento para reflexão: “A oração é liberdade e afirmação crescendo a partir do nada em direção ao amor. A oração é o florescimento da nossa liberdade mais interior em resposta à Palavra de Deus.”
Contemplação num mundo de ação, Thomas Merton

23 junho 2008

Se não há silêncio, não há religião

“ Se não há silêncio para além e dentro de palavras de doutrina, não há religião, apenas ideologia religiosa. Isto porque a religião vai além das palavras e ações, e atinge a verdade última no silêncio. Quando falta esse silêncio, onde existem apenas as ‘muitas palavras’ e não A Palavra há muito alvoroço e atividade, mas nenhuma paz, nenhum pensamento profundo, nenhuma compreensão, nenhuma quietude interior. Quando não há paz, não há luz. A mente hiperativa tem a impressão de ser desperta e produtiva, mas isto é um sonho. Apenas no silêncio e na solidão, na quietude da adoração, na reverente paz da oração, a adoração na qual todo o ego silencia e se humilha na presença do Deus Invisível, só nessas ‘atividades’ que são ‘não-ações’ o espírito realmente desperta do sonho de uma existência dividida e confusa.”

Honorable Reader: Reflections on My Work, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy
(Crossroad, Nova York) 1989, p. 115

Reflexão da semana de 23-06-2008

Um pensamento para reflexão: “Quem quer uma vida espiritual, precisa unificar a própria vida. Uma vida é ou toda ou nada espiritual. Ninguém pode servir a dois senhores. A sua vida é plasmada pela finalidade para a qual você vive. Você é feito à imagem daquilo que deseja.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton.

16 junho 2008

O silêncio do mundo e o nosso barulho

“ Os que amam o ruído que fazem são impacientes com o resto. Desafiam constantemente o silêncio das florestas, das montanhas e do mar. Passeiam com suas máquinas pela floresta silenciosa, em todas as direções, cheios de medo de que um mundo calmo os acuse de vazios. A pressa da sua velocidade, a pretexto de um fim, simula ignorar a tranqüilidade da natureza. O avião ruidoso, por sua trajetória, por seu estrondo, por sua força aparente, por um momento parece negar a realidade das nuvens e do céu. Vai-se o avião, fica o silêncio do céu. Afasta-se ele, a tranqüilidade das nuvens permanece. O silêncio do mundo é que é real. O nosso barulho, os nossos negócios, os nosso planos e todas as nossas fátuas explicações sobre o nosso barulho, negócios e planos, tudo isso é ilusão.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. 257
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 216
Reflexão da semana de 16-06-2008

Um pensamento para reflexão: “Não é o falar que rompe nosso silêncio, mas a ansiedade de ser ouvido. As palavras do orgulhoso impõem silêncio aos demais, de maneira que só ele possa ser ouvido. O humilde nada pede senão uma esmola; depois, espera e escuta.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton

09 junho 2008

Ouvir as palavras em silêncio

“ A mensagem da misericórdia de Deus para com o homem deve ser anunciada. A palavra da Verdade tem de ser proclamada. Isso não pode ser negado. Entretanto, não são poucos os que começam a sentir a inutilidade de acrescentar mais palavras ainda à continua maré que se derrama, sem sentido, sobre todos, em toda parte, da manhã à noite. Para que a linguagem possa ter sentido, é necessário que haja, em algum lugar, intervalos de silêncio para separar uma palavra da outra, um pronunciamento do outro. Quem se retira em busca de silêncio não necessariamente odeia a palavra. Talvez sejam o amor e o respeito pela linguagem humana que lhe impõem silêncio. Pois a misericórdia de Deus só é ouvida em palavras se for ouvida - tanto antes como depois de pronunciadas as palavras — em silêncio.”

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1960. p. 195
No Brasil: Questões abertas, (AGIR, Rio de Janeiro), 1963. p. 217
Reflexão da semana de 09-06-2008

Um pensamento para reflexão: “Que eu procure, pois, o dom do silêncio, da pobreza e da solidão, onde tudo que toco se transforma em oração; onde o céu é minha oração, os pássaros são minha oração, o vento nas árvores é minha oração, pois Deus é tudo em tudo.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton

02 junho 2008

Para que o homem se faça Deus

“ O que agora se necessita não é apenas o cristão que se compraz internamente com as palavras e o exemplo de Cristo, mas aquele que segue Cristo de forma perfeita, não só em sua vida pessoal, não só na oração e na penitência, mas também em seus compromissos políticos e em todas as responsabilidades sociais. Certamente não precisamos de uma espiritualidade pseudo-contemplativa que afirma ignorar por completo o mundo e seus problemas e supostamente se dedica às coisas de Deus, sem se preocupar com a sociedade humana. Toda verdadeira espiritualidade cristã, mesmo a do cristão contemplativo, é e sempre deve ser profundamente preocupada com o ser humano, pois ‘Deus se fez homem para que o homem se faça Deus’ (S. Irineu). O espírito cristão é de compaixão, responsabilidade e compromisso. Não pode ser indiferente ao sofrimento, à injustiça, ao erro e à inverdade.”

Peace in the Post-Christian Era
, Thomas Merton
Editado por Patricia A. Burton
(Orbis Books, Maryknoll, NY), 2004, p. 135
No Brasil: A paz na era pós-cristã, (Editora Santuário, Aparecida do Norte), 2008, p.
Reflexão da semana de 02-06-2008

Um pensamento para reflexão: “Vivemos à beira do desastre porque não sabemos como deixar a vida acontecer. Não respeitamos as contradições e paradoxos vivos e fecundos de que a verdadeira vida está cheia. Nós os destruímos, ou tentamos destruí-los, com nossas sistematizações obsessivas e absurdas. Quer o façamos em nome da matéria ou em nome do espírito, faz pouca diferença no final. Existem ateus que lutam contra Deus e ateus que afirmam acreditar Nele: o que ambos têm em comum é o ódio à vida, o medo da imprevisibilidade, o horror à graça e a recusa de todo dom espiritual.”
A Thomas Merton Reader, editado por Thomas P. McDonnell