25 junho 2007

A primazia do amor

“ Em todos os Verba Seniorum [Os ditos dos padres do deserto] encontramos uma repetida insistência na primazia do amor sobre tudo o mais na vida espiritual: conhecimento, gnose, ascese, contemplação, solidão, oração. Na verdade, o amor é a vida espiritual e, sem ele, todos os outros exercícios do espírito, por mais elevados que sejam, são esvaziados de conteúdo e se tornam meras ilusões. Quanto mais elevados forem, mais perigosa será a ilusão.

É claro que amor significa muito mais do que mero sentimento, muito mais do que favores isolados e esmolas superficiais. Amor significa uma identificação interior e espiritual com o próximo, de tal maneira que a pessoa não mais o vê como ‘objeto’ ao ‘qual’ se ‘faz o bem’. O fato é que um bem feito a outro como objeto tem pouco ou nenhum valor espiritual. O amor assume o próximo como outro eu, e o ama com toda a imensa humildade, discrição, reserva e reverência sem as quais ninguém pode pretender entrar no santuário da subjetividade do outro. Devem estar necessariamente ausentes desse amor toda brutalidade autoritária, toda exploração, dominação e condes-cendência. Os santos do deserto eram inimigos de qualquer expediente, sutil ou grosseiro, ao qual ‘o homem espiritual’ recorre para intimidar os que acha inferiores a si mesmo, gratificando assim seu próprio ego. Eles renunciaram a tudo o que cheirasse a punição e vingança, por mais oculto que pudesse estar.”

The Wisdom of the Desert, de Thomas Merton.
(New Directions Press, . New York), 1960, p. 17-18
No Brasil: A sabedoria do deserto, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 18-19
Reflexão da semana de 25-06-2007
Um pensamento para reflexão: “O amor exige uma transformação interna completa , pois sem isto não podemos nos identificar com nosso irmão [e irmã]. De certa maneira, temos de tornar-nos a pessoa que amamos.”
A sabedoria do deserto, Thomas Merton

24 junho 2007

Amigos de Portugal


Eiras, uma aldeia de Portugal e uma das 51 freguesias da Vila de Arcos de Valdevez, com pouco mais de 300 habitantes é uma das localidades onde reside um leitor das Reflexões de Thomas Merton!
É significativo o número de blogs sediados no nosso país irmão que referenciam nosso blog e atraem a cada dia mais admiradores dos escritos de Thomas Merton.

20 junho 2007

Babel, potestades e elementos

“ Embora haja mais de um modo de preservar a liberdade dos filhos de Deus, a maneira à qual fui chamado é a da vida monástica.

A visão de Paulo sobre os ‘elementos’ e as ‘potestades do ar’ foi formulada na linguagem da cosmologia de seu tempo. Traduzida na linguagem de nossa própria época, eu diria que essas misteriosas realidades devem ser procuradas onde menos as esperamos, não no que é distante e misterioso, e sim no que é mais familiar, no que está ao alcance da mão, no que esbarramos o dia inteiro – no que fala ou canta ao nosso ouvido e praticamente pensa por nós. As ‘potestades’ e ‘elementos’ são precisamente o que se interpõe entre o mundo e Cristo. São eles que barram o caminho da reconciliação. São eles que, influenciando todo o nosso pensamento e comportamento de tantas maneiras insuspeitadas, fazem-nos tender a decidir pelo mundo e contra Cristo, impossibilitando assim a reconciliação.

Claramente, as ‘potestades’ e os ‘elementos’, que na época de Paulo dominavam a mente dos homens por intermédio da religião pagã ou do legalismo religioso, hoje nos dominam na confusão e na ambigüidade da Babel de línguas que chamamos de sociedade de massas. É claro que não condeno tudo nos meios de comunicação de massas. Mas como parar para distinguir a verdade da meia-verdade, o acontecimento do pseudo-acontecimento, a realidade da imagem fabricada? É nesta confusão de imagens e mitos, superstições e ideologias que as ‘potestades do ar’ governam o nosso pensamento – até o nosso pensamento sobre religião! Como evitar a ilusão e a confusão se não houver perspectiva crítica, observação distanciada, tempo para fazer as perguntas pertinentes?”

Faith and Violence: Christian Teaching and Christian Practice, de Thomas Merton
(University of Notre Dame Press, Notre Dame, Indiana) 1968, p. 150.
Reflexão da semana de 18-06-2007

Um pensamento para reflexão: “Alguém precisa tentar manter a mente livre de ruído e preservar a solidão e o silêncio interiores que são essenciais para o pensamento independente.”
Faith and Violence, Thomas Merton

11 junho 2007

O mais pesado dos fardos

“ Dá-me a força que espera em Ti em silêncio e em paz. Dá-me a humildade — somente nela se encontra o repouso — e liberta-me do orgulho, o mais pesado dos fardos. Toma posse, totalmente, de meu coração e de minha alma com a simplicidade do amor. Ocupa, inteiramente, minha vida com o único pensamento e o único desejo de amar, para que eu possa amar não por causa do mérito, nem por causa da perfeição, nem por causa da virtude, nem por causa da santidade. Mas por Ti só.

Pois há somente uma coisa que possa satisfazer o amor e recompensá-lo: Tu, unicamente Senhor.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1972. p. 45
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 52
Reflexão da semana de 11-06-2007

Um pensamento para reflexão: “Que meu olhos nada vejam nesse mundo, a não ser a Tua glória, e que minhas mãos nada toquem, senão o que for do Teu serviço.”
Novas sementes de contemplação, Thomas Merton

04 junho 2007

Progresso da pessoa e da sociedade

“ O progresso da pessoa e o progresso da sociedade caminham juntos. Nosso mundo moderno não pode alcançar a paz e uma ordem social plenamente eqüitativa apenas por meio da aplicação das leis que atuam sobre a humanidade, vindas de fora de nós, por assim dizer. A transformação da sociedade começa dentro da pessoa. Começa com o amadurecimento e a abertura de nossa liberdade pessoal em relação a outras liberdades — em relação ao resto da sociedade. A ‘doação’ cristã que é exigida de nós é uma participação inteligente e plena na vida de nosso mundo, não somente com base na lei natural, mas também na comunhão e reconciliação do amor interpessoal. Isto significa uma capacidade de estar abertos aos outros como pessoas, de desejar para os outros tudo o que sabemos ser necessário a nós mesmos, tudo o que se precisa para o pleno crescimento e até para a felicidade temporal de uma existência plenamente pessoal.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 155
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 164
Reflexão da semana de 04-06-2007

Um pensamento para reflexão: “Como o homem chega a uma união real de amor com seu próximo? Não meramente por uma concordância abstrata quanto às verdades relativas ao fim de todas as coisas e à vida após a morte, mas por uma colaboração realista nas atividades da vida cotidiana no mundo dos fatos concretos no qual o homem tem de trabalhar para comer.”
Amor e vida, Thomas Merton