22 outubro 2007

Os sensatos e os perigosos

“ Um dos fatos mais perturbadores no julgamento de [Adolf] Eichmann é que um psiquiatra o examinou e o considerou perfeitamente são. Não duvido, de forma alguma, é precisamente por isso que acho o fato perturbador.

A sanidade de Eichmann é perturbadora. Associamos sanidade com senso de justiça, humanidade, prudência, capacidade de amar e entender as pessoas. Dependemos das pessoas sãs do mundo para preservá-lo da barbárie, da loucura, da destruição. E agora começamos a nos dar conta de que os sensatos é que são os mais perigosos.

São os sensatos, os bem adaptados que, sem receios e sem escrúpulos, apontam os projéteis e apertam os botões que iniciarão o grande festival de destruição que eles, os sadios, prepararam. O que nos dá tanta certeza de que, afinal, o perigo provem de um psicótico em condições de disparar o primeiro tiro numa guerra nuclear? Os psicóticos serão suspeitos. Os sadios os manterão afastados dos botões. Ninguém suspeita dos sadios, que terão sempre boas razões, lógicas e plausíveis, para disparar. Estarão obedecendo ordens sadias que terão vindo de forma sensata pela cadeia de comando. E, por causa de sua sanidade, jamais terão escrúpulos. Quando os mísseis forem disparados, não terá sido por engano.”

Raids on the Unspeakable, de Thomas Merton
(New Directions Publishing Co., New York), 1964, p. 45, 46-47
Reflexão da semana de 22-10-2007

Um pensamento para reflexão
: “Os que inventaram e desenvolveram as bombas atômicas, as bombas termonucleares, o mísseis, os que planejaram as estratégias da próxima guerra, os que avaliaram as possibilidades de usar agentes bacteriológicos e químicos: estes não são os loucos, são as pessoas sadias.”
Raids on the Unspeakable, Thomas Merton

Um comentário:

Anônimo disse...

Gente!!!!

Se não fosse Thomas Merton o católico de grande vulto, grande erudito e autor de inúmeros e ótimos livros, que viveu o paradoxo do monge trapista e do homem do mundo, teria pudor em encaminhar a citação da semana que recebo da Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton.

Falamos sempre de "normoses", nos que se adequam às circunstâncias por mais injustas que sejam e não contemplam a realidade de cada momento e do muito que está por trás das realidades, sejam elas qual forem... Este pensamento vem de um homem lúcido, que defendeu até a morte o seu direito de olhar e contemplar o manifesto sem nunca perder o sentido fraterno, a essência, a misericórdia.