24 setembro 2007

Transformados pelo poder do amor

“ Quando as pessoas realmente amam, experimentam muito mais do que apenas a necessidade de companhia e aconchego mútuos. Em sua relação com o outro, tornam-se pessoas diferentes: são mais do que de costume, mais vivas, mais compreensivas, mais pacientes, mais resistentes... São refeitas como seres novos. Transformadas pelo poder do seu amor.

O amor é a revelação do nosso sentido, valor e identidade pessoais mais profundos. Mas esta revelação é impossível enquanto formos prisioneiros de nosso egoísmo. Não posso me encontrar em mim mesmo, mas só em outro. Meu verdadeiro sentido e valor me são mostrados não na avaliação que faço de mim mesmo, mas nos olhos de quem me ama; e este deve me amar como sou, com minhas falhas e limitações, revelando-me a verdade de que essas falhas e limitações não podem destruir meu valor aos olhos daquele que me ama; e que sou, portanto, valioso como pessoa, a despeito de minhas falhas, a despeito das imperfeições do meu “pacote” exterior. O pacote é totalmente desimportante. O que importa é essa mensagem infinitamente preciosa que só posso descobrir no meu amor por outra pessoa. E essa mensagem, esse segredo, só me é plenamente revelado se, ao mesmo tempo, eu for capaz de ver e entender o valor singular e misterioso daquele que amo.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 31
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 36-37
Reflexão da semana de 24-09-2007

Um pensamento para reflexão
: “O amor não é só uma maneira especial de estar vivo: é a perfeição da vida. Aquele que ama está mais vivo e é mais real do que quando não amava.”
Amor e vida, Thomas Merton

17 setembro 2007

O sentido real da vontade de Deus

“ Para conhecer a vontade de Deus, tenho de ter a atitude certa diante da vida. Preciso, em primeiro lugar, saber o que é a vida e qual o propósito da minha existência.

Está muito bem declarar que existo a fim de salvar a minha alma e dar glória a Deus ao fazê-lo. Está muito bem dizer que, para tanto, obedeço a certos mandamentos e observo certos conselhos. Contudo, mesmo sabendo tudo isso e até conhecendo toda a teologia moral, a ética e o direito canônico, ainda posso passar pela vida ajustando-me a certas indicações da vontade de Deus sem jamais me dar plenamente a Deus. Este é, em última análise, o real sentido da Sua vontade. Ele não precisa dos nossos sacrifícios. Ele nos pede nós mesmos. Se prescreve certos atos de obediência, não é porque a obediência seja o princípio e o fim de tudo. É apenas o princípio. Caridade, união divina, transformação em Cristo: estes constituem o fim.”

No Man is an Island
, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. 63
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 67
Reflexão da semana de 17-09-2007

Um pensamento para reflexão
: “[O] que Deus deseja de mim sou eu mesmo. Isto significa que Sua vontade para mim aponta uma coisa: perceber, descobrir, plenificar o meu eu, o meu eu verdadeiro, em Cristo.”
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton

10 setembro 2007

Minha oração é a oração da Igreja

“ A verdadeira dificuldade em definir a consciência cristã é que esta não é nem coletiva nem individual. É pessoal, e é uma comunhão de santos.

Do ponto de vista da oração, quando digo consciência estou falando da que é mais profunda do que a consciência moral. Quando rezo, não estou mais falando com Deus nem comigo amado por Deus. Quando rezo, a Igreja reza em mim. Minha oração é a oração da Igreja.

Isto não se aplica apenas à liturgia: aplica-se também à oração particular, porque sou membro de Cristo. Para rezar de forma válida e profunda, tem de ser com a consciência de mim como sendo mais do que apenas eu mesmo quando rezo. Em outras palavras, não sou só um indivíduo quando rezo, e não sou apenas um indivíduo com graça quando rezo. Quando rezo, sou, em certo sentido, todo mundo. A mente que reza em mim é mais do que minha própria mente; e os pensamentos que me vêm são mais do que os meus próprios pensamentos porque, quando rezo, esta consciência profunda é um lugar de encontro entre eu e Deus, e do amor comum de todos. É a vontade e o amor comuns da Igreja encontrando-se com a minha vontade e a vontade de Deus na minha consciência quando rezo.”

Thomas Merton in Alaska, de Thomas Merton
(New Directions Press, New York),1988, p. 134-135
Reflexão da semana de 10-09-2007

Um pensamento para reflexão: “Encontro-me com outras pessoas não só no contato externo com elas, mas também nas profundezas do meu coração. Em certo sentido, sou mais um com outras pessoas no que há de mais secreto em meu coração do que quando me relaciono externamente com elas.”
Thomas Merton in Alaska, Thomas Merton

03 setembro 2007

Além da ética e da política

“ Ao ler Chuang Tzu, pergunto-me seriamente se a resposta mais sábia (no plano humano, fora a resposta de fé) não está além da ética e da política. É uma resposta oculta; desafia a análise e não pode ser incorporada a um programa. Ética e política, é claro: mas só de passagem, só como ‘pouso para uma noite’. Há um tempo para a ação, um tempo para o ‘compromisso’, mas nunca para o envolvimento total nos meandros de um movimento. Há um tempo de inocência e kairòs, quando a ação faz muitíssimo sentido. Mas quem pode reconhecer esses momentos? Não aquele que está desbordado por uma série de programas. E quando toda ação se torna absurda, será que devemos continuar a agir simplesmente porque uma vez, muito tempo atrás, fazia muitíssimo sentido? Como se estivéssemos sempre indo para algum lugar? Há um tempo para ouvir, na vida ativa como em tudo o mais, e a maior parte da ação consiste em esperar, sem saber o que vem depois e sem ter uma resposta pronta.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 173
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 200
Reflexão da semana de 03-09-2007

Um pensamento para reflexão: “Um postulante que chegou ao fim da linha e quer ir embora, mas que foi dissuadido (não por mim), fica na biblioteca do noviciado folheando um livro chamado Relaxe e Viva. Mais cedo ou mais tarde acaba sendo isto.”
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton