26 fevereiro 2007

O ascetismo cristão

“ O ascetismo cristão é notável sobretudo por seu equilíbrio e senso de proporção. Não acentua excessivamente o lado negativo da vida ascética, nem tende a lisonjear o ego, diminuindo-lhe as responsabilidades, diluindo a verdade. Mostra-nos claramente que, embora nada possamos fazer sem a graça, devemos, contudo, com ela cooperar. Adverte-nos que devemos romper, de forma inegociável, com o mundo e tudo o que ele representa, mas nos encoraja sempre a entender que nossa existência ‘no mundo’ e no tempo se torna frutuosa e tem sentido na medida em que somos capazes de assumir a responsabilidade espiritual e cristã por nossa vida, nosso trabalho e até pelo mundo em que vivemos. Assim, o ascetismo cristão não nos fornece uma fuga do mundo, um refúgio contra o estresse e as distrações provenientes das múltiplas formas do mal. Torna-nos capazes de penetrar na confusão do mundo como portadores de algo da luz da Verdade em nossos corações, e habilita-nos a exercer algo do misterioso e transformador poder da Cruz, do amor e do sacrifício.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 131-132
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 135-136

Reflexão da semana de 26-02-2007

Um pensamento para reflexão: “O Espírito Santo jamais pede que renunciemos a algo sem oferecer-nos em troca algo muito mais elevado e perfeito. A autopunição por amor ao castigo não faz parte do cristianismo. A finalidade da abnegação é levar-nos a um aumento positivo de energia e de vida espirituais. O cristão não morre simplesmente para morrer, mas sim para viver.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

19 fevereiro 2007

Quaresma: nosso Outono Santo

“ Até os momentos mais sombrios da Liturgia são cheios de alegria, e a Quarta-feira de Cinzas, início do jejum quaresmal, é um dia de felicidade, um banquete cristão. Não pode ser de outro modo, uma vez que faz parte do grande ciclo Pascal.

O Mistério Pascal é, acima de tudo, o mistério da vida no qual a Igreja, ao celebrar a morte e a ressurreição de Cristo, penetra no Reino de Vida que Ele implantou, de uma vez por todas, por meio de sua vitória definitiva sobre o pecado e a morte. Devemos lembrar-nos do sentido original da Quaresma, ver sacrum, a “fonte sagrada” da Igreja na qual os catecúmenos eram preparados para o batismo, e os penitentes públicos purificados, pela penitência, para a restauração da sua vida sacramental em comunhão com o resto da Igreja. Portanto, a Quaresma, é mais tempo de cura do que de punição.”
Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 113
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 116
Reflexão da semana de 19-02-2007

Um pensamento para reflexão: “A Quaresma é uma preparação para o júbilo no Amor de Deus. E essa preparação consiste em receber o dom de sua misericórdia — dom que recebemos na medida em que lhe abrimos o coração, lançando fora o que não pode conviver com a misericórdia.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

12 fevereiro 2007

Viver em um verdadeiro contexto humano

“ Só começamos a entender a importância concreta não apenas de nossos sucessos, mas também dos fracassos e acidentes de nossas vidas quando nos vemos em nosso verdadeiro contexto humano, como membros de uma espécie destinada a ser um organismo e ‘um corpo’. Meus sucessos não são meus. O caminho que levou a eles foi preparado por outros. O fruto de meus esforços não é meu: estou preparando o caminho para as realizações de outro. Meus fracassos também não são meus. Podem provir da falha de outro, mas também são compensados pela realização de outro. Portanto, o significado da minha vida não deve ser procurado apenas na soma totais de minhas realizações. Só é visto na completa integração de minhas realizações e falhas às realizações e falhas de minha própria geração e sociedade e tempo. É visto, acima de tudo, em minha integração ao mistério de Cristo.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. 16
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 17
Reflexão da semana de 12-02-2007

Um pensamento para reflexão: “Não existimos apenas para nós, e só começamos a amar-nos de verdade, e portanto a amar a outros, quando estamos plenamente convencidos deste fato.”
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton

05 fevereiro 2007

Optar pelo mundo

“ Se não tive a oportunidade de escolher a época em que viveria, tenho, no entanto, uma opção quanto à atitude que tomo e quanto à maneira e à medida de minha participação nos acontecimentos vivos que se sucedem. Assim, optar pelo mundo não é um mero reconhecimento piedoso de que o mundo é aceitável porque vem da mão de Deus. Trata-se, em primeiro lugar, de assumir uma tarefa e uma vocação no mundo, na história e no tempo. O meu tempo, que é o presente.

Optar pelo mundo é optar por fazer o trabalho de que sou capaz, em colaboração com meu irmão e minha irmã, para tornar o mundo melhor, mais livre, mais justo, mais habitável, mais humano. Agora tornou-se transparente que os meros e automáticos ‘rejeição do mundo’ e ‘desprezo pelo mundo’ são, na realidade, não uma opção, mas fuga de uma opção. A pessoa que pretende poder dar as costas a Auschwitz ou ao Vietnã, e que age como se esses fatos não existissem está simplesmente blefando.”

Contemplation in a World of Action, de Thomas Merton
(Doubleday, Garden City, NY), 1971. p.164-165(Doubleday, Garden City, NY), 1971. p.164-165
No Brasil: Contemplação num Mundo de Ação (Ed. Vozes, Petrópolis), 1975, p. 149
Reflexão da semana de 05-02-2007



Um pensamento para reflexão: “O ‘mundo’ não é só um espaço físico atravessado por aviões a jato e cheio de pessoas correndo em todas as direções. É um complexo de responsabilidades e de opções feitas em função de amor, ódio, medo, alegria, esperança, cobiça, crueldade, bondade, fé, confiança e de desconfiança em relação a tudo.”
Contemplação num mundo de ação, Thomas Merton