29 maio 2006

Essa única coisa necessária

“ Um dos principais obstáculos a essa perfeição de caridade generosa é a ansiedade egoísta de tirar o máximo de cada coisa, de ter um brilhante êxito aos nossos olhos e aos dos outros. Só podemos livrar-nos dessa ansiedade se aceitarmos perder algo em quase tudo o que fizermos. Não podemos dominar tudo, provar tudo, compreender tudo, esgotar totalmente cada experiência. Mas, se tivermos a coragem de abrir mão de quase tudo, provavelmente conseguiremos reter o único necessário – seja ele qual for. Se formos por demais ávidos de ter tudo, quase com certeza perderemos até a única coisa que necessitamos.

A felicidade consiste em descobrir precisamente o que pode ser essa ‘única coisa necessária’ em nossas vidas e renunciar alegremente a todo o resto. Pois então, por um divino paradoxo, constatamos que tudo o mais nos é dado junto com a coisa única de que precisamos.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. 130
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 119
Reflexão da semana de 29-05-2006

22 maio 2006

Um amor que nos transforma

“ Mas, para amar alguém como pessoa, temos de começar por conceder-lhe autonomia e identidade próprias como pessoa. Temos de amá-lo por causa daquilo que ele é em si mesmo e não por causa do que ele é para nós. Havemos de amá-lo para o seu próprio bem, não pelo bem que dele retiramos. Ora, isso é impossível se não formos capazes de um amor que nos ‘transforma’, por assim dizer, no outro, tornando-nos capazes de ver as coisas como ele as vê, de amar o que ele ama, de experimentar as mais profundas realidades de sua vida como se fossem nossas. Sem sacrifício, tal transformação não é possível. Entretanto, se não somos capazes dessa espécie de transformação ‘no outro’ enquanto permanecermos nós mesmos, não estamos ainda aptos para uma existência plenamente humana.”

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1960. p. 104
No Brasil: Questões abertas, (AGIR, Rio de Janeiro), 1963. p. 121
Reflexão da semana de 22-05-2006

15 maio 2006

Viver nossa própria vida

“ Se queremos, pois, ser espirituais, vamos em primeiro lugar viver nossa própria vida. Não tenhamos medo das responsabilidades e inevitáveis distrações inerentes à tarefa a nós confiada pela vontade de Deus. Abracemos a realidade; assim nos encontraremos imersos na vontade vivificadora e na sabedoria de Deus, que por toda a parte nos envolve.”

Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 46-47
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 39
Reflexão da semana de 15-05-2006

08 maio 2006

O mal cometido “para o bem comum”...

“ Existem crimes que ninguém consentiria em cometer como indivíduo, e que o homem comete de bom grado e com audácia quando age em nome da sociedade a que pertence, porque foi (com demasiada facilidade) convencido de que o mal é totalmente diferente quando cometido “para o bem comum”. Como exemplo, poderíamos apontar o fato de o ódio e até a perseguição racista serem admitidos por pessoas que se consideram, e talvez em certo sentido o sejam, boas, tolerantes, civilizadas e até humanas. No entanto, essas pessoas adquiriram uma peculiar deformidade de consciência como resultado de sua identificação com o grupo e sua imersão na sociedade de que fazem parte. Essa deformação é o preço que pagam para poderem esquecer-se da solidão que lhes parece um demônio e poder exorcizá-la.”

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1960. p. 183
No Brasil: Questões abertas, (AGIR, Rio de Janeiro), 1963. p. 205

Reflexão da semana de 8-05-2006

07 maio 2006

The Thomas Merton Center


Fachada da biblioteca da Universidade onde está localizado o Centro.

O The Thomas Merton Center é o local oficial de arquivo da herança literária e artística de Merton, incluindo mais mil e trezentas fotografias, novecentos desenhos em adição aos seus escritos. O centro abriga mais de cinquenta mil ítens de materiais relacionados a Merton.

Em 1967, um ano antes de sua morte, Merton criou o Merton Legacy Trust, e nomeou o Bellarmine College como o repositório de seus manuscritos, cartas, diários, fitas de áudio, desenhos, fotografias e memorabilia. Dois anos depois, em outubro de 1969 a faculdade fundou o Thomas Merton Center, tendo a Coleção como seu ponto focal.

O Centro funciona como um recurso regional, nacional e internacional para estudos acadêmicos e consultas sobre Merton e suas obras e também sobre as idéias que ele promoveu: a vida contemplativa, espiritualidade, ecumenismo, relações com o Leste europeu, paz e justiça social. O Centro patrocina regularmente cursos, conferências, retiros, seminários e exposições para estudiosos, alunos e para o público em geral.

O Thomas Merton Center está localizado no segundo andar da biblioteca principal (W.L. Lyons Brown Library) do campus da Bellarmine University. Fica aberto das 8 às 17 horas nos dias da semana. Mediante consulta podem ser organizadas visitas de grupos no período da noite e nos sábados.A Universidade também possibilita a hospedagem de um pequeno número de visitantes pesquisadores em acomodações de estudantes.


Salão de leitura do Centro


Saiba mais sobre o Thomas Merton Center clicando no link correspondente na seção "Favorites", ao lado.

01 maio 2006

Uma mistura de bem e mal

“ Há muito a dizer a favor e contra as ilusões e ficções incentivadas pelo desejo de auto-afirmação de certos grupos restritos. Na prática, eles de fato libertam o homem de suas limitações individuais e o ajudam, em certa medida, a transcender a si mesmo. E, se todas as sociedades fossem ideais, cada uma delas ajudaria seus membros a realizarem apenas uma auto-transcendência fecunda e produtiva. Mas, na verdade, as sociedades tendem a erguer o homem acima de si mesmo só na medida exata para torná-lo um instrumento útil e submisso em quem as aspirações, concupiscências e necessidades do grupo possam funcionar sem o empecilho de uma consciência pessoal delicada demais. A vida social tende a formar e educar as pessoas, mas geralmente à custa de deformação e perversão simultâneas. Isto porque a sociedade civil nunca é ideal, mas sempre uma mistura de bem e mal, e sempre tende a apresentar o mal em si mesma como uma forma de bem.”

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1960. p. 182-183
No Brasil: Questões abertas, (AGIR, Rio de Janeiro), 1963. p. 204-205
Reflexão da semana de 1-05-2006