31 janeiro 2005

O dom da vida

“ Por que será que meio que me convenci que morreria cedo? Talvez uma certa superstição — um medo de admitir uma esperança de vida que, se assumida, poderia ter que ser esmagada. Mas agora já “vivi” um razoável período de vida e que, se isto é importante ou não, nada pode alterá-la. Isto é certo, infalível mesmo, embora isto também seja somente um tipo de sonho. Se não chegar aos sessenta e cinco, terá ainda menos importância. Posso descansar. Mas a vida é um dom que me alegra e não lastimo o dia em que nasci. Muito ao contrário, se não tivesse nascido jamais poderia ter tido amigos para amar e ser amado, não teria cometido erros para aprender com eles, não teria conhecido novos países e, apesar do que eu possa ter sofrido, isto não tem conseqüências pois é, em verdade, parte do grande bem que a vida tem sido e espero, continuará a ser.”

A Year with Thomas Merton, Daily Meditations from His Journals
Selecionado e editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, A Division of HarperCollinsPublishers, New York), 2004, p. 31.
Reflexões da semana de 31-01-2005

24 janeiro 2005

Angústia de parecer pecador

“ Não pode haver dúvida, nenhuma transigência, na minha decisão de ser completamente fiel à vontade e à verdade de Deus, e por isso devo procurar sempre e em tudo agir de acordo com Sua vontade e Sua verdade, e assim procurar, com sua graça, ser ‘santo’.

Não deve haver dúvida, nenhuma transigência nos meus esforços, para que eu não falseie esse trabalho de verdade por dar excessiva importância ao que outros aprovam ou consideram como ‘santo’. Em suma, pode acontecer (ou não) que o que Deus pede de mim me faça parecer menos perfeito aos olhos de outros, e que isso poderá me privar de seu apoio, afeto ou respeito. Portanto, santificar-me pode significar a angústia de parecer um pecador, um paria, e, num sentido real, “sê-lo”. Isto pode significar um aparente conflito com certos critérios talvez mal compreendidos por mim, por outros ou por todos nós.

O jeito é apegar-me à vontade e à verdade de Deus em sua pureza e tentar ser sincero, agindo em tudo com genuíno amor, na medida do possível.”

A Year with Thomas Merton, Daily Meditations from His Journals
Selecionado e editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, A Division of HarperCollinsPublishers, New York), 2004, p. 370

Reflexão da semana de 24-01-2005

17 janeiro 2005

Para entender a alienação

“ Para entender a alienação, temos que descobrir aonde vai sua mais profunda raiz central — e entender que esta raiz nunca desaparecerá. A alienação é inseparável da cultura, da civilização e da vida em sociedade. Não é só uma característica de ‘culturas ruins’, de civilizações ‘corruptas’ ou da sociedade urbana. Não é só um duvidoso privilégio de algumas pessoas na sociedade. A alienação começa quando a cultura me divide contra mim mesmo, me põe uma máscara, me atribui um papel que posso querer desempenhar ou não. A alienação é completa quando me identifico completamente com minha máscara, totalmente satisfeito com meu papel e convencido de que qualquer outra identidade ou papel é inconcebível. O homem que transpira sob sua máscara, cujo papel lhe dá irritações desconfortáveis e que odeia essa sua divisão, já começou a ser livre. Mas que Deus o ajude se ele apenas deseja a máscara de outro homem, só porque este não parece estar suando ou sentindo coceiras. Talvez não ele seja mais suficientemente humano para sentir coceiras. (Ou então paga um psiquiatra que o coça.)

The Literary Essays of Thomas Merton
Editado por Patrick Hart, OCSO
(New Directions, New York), 1981. p. 381
Reflexão da semana de 17-01-2005

10 janeiro 2005

Soluções que a vida fornece

“ Há uma certa inocência em não ter uma solução. Há uma certa inocência num tipo de desesperança: mas só se na desesperança encontrarmos salvação. Quero dizer, desesperança em relação a este mundo e tudo o que nele existe. Desesperança em relação aos homens e seus planos, para assim esperar pela resposta impossível que está além de nossas contradições terrenas e que, contudo, pode irromper em nosso mundo e resolvê-las, mas apenas se alguns esperarem apesar da desesperança.

As verdadeiras soluções não são aquelas que forçamos sobre a vida de acordo com nossas teorias, e sim aquelas que a própria vida fornece aos que se dispõem a receber a verdade. Como conseqüência, cabe-nos tomar distância de todos aqueles que têm teorias que prometem soluções claras e infalíveis, e desconfiar dessas teorias, não com um espírito de negativismo e derrota, mas, ao contrário, confiando na própria vida, na natureza e, se me permitem, em Deus acima de tudo. Porque desde que decidiu ocupar o lugar de Deus, o homem tem se mostrado, de longe, o mais cego, o mais cruel, o mais mesquinho e o mais absurdo de todos os falsos deuses. Só podemos nos dizer inocentes se nos recusarmos a esquecer desse fato e fizermos tudo para que outros também o percebam.”

Raids on the Unspeakable, de Thomas Merton
(New Directions, 1966), 1966. p. 60-61
Reflexão da semana de 10-01-2005

03 janeiro 2005

Olhando o universo

“ Ou você olha para o universo como uma criação muito pobre donde nada se pode extrair ou olha para sua própria vida e seu próprio papel no universo como infinitamente rico, pleno de inesgotável interesse, aberto a outras infinitas possibilidades para estudo e contemplação, interesse e louvor. Além de tudo e em tudo está Deus.”

When the Trees Say Nothing, Writings on Nature, de Thomas Merton
Editado por Kathleen Deignan com um prefácio de Thomas Berry
(Sorin Books, Notre Dame, Indiana), 2003, p. 48
Publicado orginalmente in A Search for Solitude, de Thomas Merton
Editado por Lawrence S. Cunningham
(HarperCollins Publishers, New York), 1996, p. 45
Reflexão da semana 3-01-2005